Eu sou de cada um um pouco/ Um pouco amontoado - diz o Gero Camilo.
Enquanto eu: eu sou um amontoado de cada um um pouco.
Tenho um braço de cada tamanho e olhos de cores diferentes. Tenho língua de um, cheiro de outro. Tenho medo de amor. Sinto forte, tenho suor de uns três, quatro, cinco. Tenho voz de muitas. Amor de mãe, dor de filha. Tenho eu com cinco anos, treze anos, dezenove. Sou amontoado de fotos, fatos, pactos de vida e morte, arrependimentos e marés de sorte. Um aglomerado de tias, vós, bisavós. Enterros. Linhas da mão. Passado e futuro no aquiagora. Sou todos os corpos que passaram por mim. Tenho pernas de mil antepassados, força de mil espíritos. Sou Logun Edé. Tigre. Virgem ascendente Touro. Sou minha mãe, meio Bel meio Ana, meio Clara Iza, meio Marina, meio Julia. Meio Cecília. Sou minhas mulheres em mil, em mil em mim. Sobreviventes de guerra me habitam, sobrevivi ao nascimento e chorei nos piores e melhores momentos. Sou uma qualquer. Uma lembrança. O que poderia ter sido. A máxima potência. O menor pecado. De carne osso e sentimento que corta e sangra. Sou todas as menstruações, sou óvulo e espermatozóide. Sou as piores trepadas e os melhores orgasmos. Sou cabelos caindo no ralo, olheiras na ressaca, sou produto frágil: cuidado que entorna. Sou venenosa e líquida. E fleumática e melancólica. E chega disso.
15 janeiro 2009
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2 comentários:
que bom seria se toda mulher conseguisse um dia esmiuçar assim sua composição.
massa!
souuuuuuuuuuuuuuu de meia, de um terço, intêra, um tiquinho, 120% admiração dessa minina que aí SOUUUUU
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