25 maio 2009

Analfabetismo escrito

Óleo na máquina e pau no gato. Anda, bora (re)começar a escrever. Que preguiça que nada, agora ninguém vai me segurar. Solto a língua, desenrolo os dedos no teclado e o som das palavrinhas se formando já me preenche a alma de um estranho e perigoso prazer. Cigarro no dedo, costas se aprumando na cadeira, bora que o mundo não espera ninguém.
Eita espera que aqui dentro tá difícil de exprimir por mais que se esprema custa sair. É valioso demais ou é falta de assunto que corrompe neste exato minuto ou dias ou meses que já não me aguento. Que não me faço entender, já sei não mais explicar o quê. Acontece.
Acontece.
Sempre acontece assim: que num dia sem mais, sei que dia não, dia sim, dia não, dia assim, é isso que dá deixar a cabeça governar. Instrumento falho é a cabeça. Precisamos mais é de outras coisas mais. Outros órgãos estimulantes, incensos, ansiolíticos, calmantes naturais. Controlar quem nos controla a torto e a direito.
Não peço desculpas pelo texto em frangalhos tenho mais é que expressar antes que me engulam nessa vida.
Que o leitor se deixe diluir, se deite, degole, deguste-me. Leitor é pressas coisa mesmo.

19 maio 2009

Ponto Assim

Projeto: tomada de coragem, exposição do transcendental-sei-lá-o-quê do pensamento em papel.

Acho que quando construíram essa cidade, e aqui me refiro a Buenos Aires, agradou-lhes a idéia de amplas avenidas, pouquíssimos viadutos (vê-se dois na cidade inteira) e muitos, mas muitos parques e praças e gentes e carros e kioskos.

Muito se fala que B.As. é a Europa da América da Sul. Eu afirmo o contrário. Buenos Aires para mim é um enlace entre gigantismo sulamericano, no que diz respeito às suas gentes e territorialidades, dinâmica amorosa latina (ver post sobre latinidade) e cultura afiada na ponta da língua.

Pobre de mim se a buscasse como uma Paris escondida nos cafés, uma Londres nos leitores do metrô, uma Colômbia na eterna cúmbia dos passantes da Avenida Corrientes. Comparar é encaixar peças amorfas num tabuleiro decididamente estático, pode-se observar à distância mas nunca agregá-las a um corpo uno. Nós, da contracultura tipicamente eurocêntrica - como se os Estados Unidos fossem todo o mau do mundo - nos vangloriamos de um projeto que não é nosso, e tentamos fazer deles, os nossos planos.

No Lonely Planet deveria haver um aviso bem grande na sessão inicial:

"Se você procura o charme da Europa, vá para a Europa. Buenos Aires é tão só um ponto assim latino, encrustrado no Rio da Prata, com excelentes paseos e museus. Bem-vindo!"

11 maio 2009

Saudade segundo Ana

Desde sempre eu sou só saudade.
Um desconjunto,
despés no chão
desmão que apalpa
destato,
um destrato.
intrínseco e inato
desde que nasce este minuto.
(01/05/2009)


ATOS

De vez em quando a saudade é aquela. Tanta, que nem sei se existe a pessoa de que sinto falta.
Se já existiu.
Parece.
Mas sei que só parece. Apenas.
Parece muito.
É invenção?
Parece tanto.
Parece.
Que. Será que não é mesmo ele?
(09/03/2009)


ENCONTRO CLÁSSICO NO SALÃO

eu saúdo
tu saúdas
nós saudade
(28/02/2009)

(d'O galo da vizinha, aí à direita, da Ana Khel)