19 dezembro 2009

Chega

Estou só. Em Natal. No meio do Rio Grande do Norte, do calor, das praias, das pessoas magníficas, dos sertões. Aqui. Mas já estou farta daqui. Me tirem daqui. Quero voltar pra minha cidade cinza de carros e palavrões nos muros, quero o chuvisco, a fumaça, a noite. Quero a noite! Aqui tem noite também. Tem de noite e de dia. Mas aqui de noite não é como a minha cidade de noite. Ah não, não é mesmo. Aqui tem o Buraco da Catita que é o máximo, mas acaba cedo. E esse calor que me derrete os miolos. E esse calor... e esse calor...
Eu não fui feita para o calor assim como não fui feita para o dia, fui feita na minha cidade e é pra lá que eu quero ir. E me cansei daqui desta pousada que não é minha casa. Deste sol na telha. Desta piscina falsa. Destas praias tão lindas e tão cheias. Não quero nem ir à praia neste meu último dia. Não quero fazer nada. Só esperar a hora de ir embora.

17 dezembro 2009

O Lamento da Imperatriz



Die Klage der Kaiserin
(O Lamento da Imperatriz) é o primeiro filme de Pina Bausch desenvolvido com sua companhia, o Wuppertal Theatre of Dance. Filmado em Wuppertal, Alemanha, entre 1987 e 89. Foi construído com a mesma estrutura de sua dança-teatro, ou seja, como colagem. É expressivo e simbólico. Para mim, dentre tantas coisas, fala sobre o que é ser mulher. A feminilidade e os papéis sociais entrelaçados à alienação de viver e ao nonsense cotidiano.

16 dezembro 2009

* RAUSCHENBERG


* RAUSCHENBERG
Originally uploaded by Daniel Scandurra

Ultimatum

A todos em Copenhague, e fora dele.



Ouça antes de ler!

Mandado de despejo aos mandarins da Europa! Fora.
Fora tu, Anatole-France, Epicuro de farmacopeia-homeopática, ténia-Jaurès do Ancien-Régime, salada de Renan-Flaubert em louça do século dezassete, falsificada!
Fora tu, Maurice-Barrès, feminista da Acção, Chateaubriand de paredes nuas, alcoviteiro de palco da pátria de cartaz, bolor da Lorena, algibebe dos mortos dos outros, vestindo do seu comércio!
Fora tu, Bourget das almas, lamparineiro das partículas alheias, psicólogo de tampa de brasão, reles snob plebeu, sublinhando a régua de lascas os mandamentos da lei da Igreja!
Fora tu, mercadoria Kipling, homem-prático do verso, imperialista das sucatas, épico para Majuba e Colenso, Empire-Day do calão das fardas, tramp-steamer da baixa imortalidade!
Fora! Fora!
Fora tu, George-Bernard-Shaw, vegetariano do paradoxo, charlatão da sinceridade,
tumor frio do ibsenismo, arranjista da intelectualidade inesperada, Kilkenny-Cat de
ti próprio, Irish-Melody calvinista com letra da Origem-das-Espécies!
Fora tu, H. G. Wells, ideativo de gesso, saca-rolhas de papelão para a garrafa da Complexidade!
Fora tu, G. K. Chesterton, cristianismo para uso de prestidigitadores, barril de cerveja ao pé do altar, adiposidade da dialéctica cockney com o horror ao sabão influindo na limpeza dos raciocínios!
Fora tu, Yeats da céltica-bruma à roda de poste sem indicações, saco de podres que veio à praia do naufrágio do simbolismo inglês!
Fora! Fora!
Fora tu, Rapagnetta-Annunzio, banalidade em caracteres gregos, «D. Juan em Pathmos» (solo de trombone)!
E tu, Maeterlinck, fogão do Mistério apagado!
E tu Loti, sopa salgada fria!
E finalmente tu, Rostand-tand-tand-tand-tand-tand-tand-tand!
Fora! Fora! Fora!
E se houver outros que faltem, procurem-nos por aí pra um canto!
Tirem isso tudo da minha frente!
Fora com isso tudo! Fora!


Ai! que fazes tu na celebridade, Guilherme-Segundo da Alemanha, canhoto maneta do braço esquerdo, Bismarck sem tampa a estorvar o lume?!
Quem és tu, tu da juba socialista, David-Lloyd-George, bobo de barrete frígio feito de Union Jacks?!
E tu, Venizelos, fatia de Péricles com manteiga, caída no chão de manteiga para baixo?
E tu, qualquer outro, todos os outros, açorda Briand-Dato. Boselli da incompetência ante os factos todos os estadistas pão-de-guerra que datam de muito antes da guerra! Todos! todos! todos! Lixo, cisco, choldra provinciana, safardanagem intelectual!
E todos os chefes de estado, incompetentes ao léu, barris de lixo virados para baixo à porta da Insuficiência da Época!
Tirem isso tudo da minha frente!
Arranjem feixes de palha e ponham-nos a fingir gente que seja outra!
Tudo daqui para fora! Tudo daqui para fora!
Ultimatum a eles todos, e a todos os outros que sejam como eles todos!
Senão querem sair, fiquem e lavem-se.
Falência geral de tudo por causa de todos!
Falência geral de todos por causa de tudo!
Falência dos povos e dos destinos — falência total!
Desfile das nações para o meu Desprezo!
Tu, ambição italiana, cão de colo chamado César!
Tu, «esforço francês», galo depenado com a pele pintada de penas! (Não lhe dêem muita corda senão parte-se!)
Tu, organização britânica, com Kitchener no fundo do mar mesmo desde o princípio da guerra!
(It 's a long, long way to Tipperary and a jolly sight longer way to Berlin!)
Tu, cultura alemã, Esparta podre com azeite de cristismo e vinagre de
nietzschização, colmeia de lata, transbordamento imperialóide de servilismo engatado!
Tu, Áustria-súbdita, mistura de sub-raças, batente de porta tipo K!
Tu, Von Bélgica, heróica à força, limpa a mão à parede que foste!
Tu, escravatura russa, Europa de malaios, libertação de mola desoprimida porque se partiu!
Tu, «imperialismo» espanhol, salero em política, com toureiros de sambenito nas almas ao voltar da esquina e qualidades guerreiras enterradas em Marrocos!
Tu, Estados Unidos da América, síntese-bastardia da baixa-Europa, alho da açorda transatlântica nasal do modernismo inestético!
E tu, Portugal-centavos, resto da Monarquia a apodrecer República, extremaunção-enxovalho da Desgraça, colaboração artificial na guerra com vergonhas naturais em África!
E tu, Brasil, «república irmã», blague de Pedro-Álvares-Cabral, que nem te queria descobrir!
Ponham-me um pano por cima de tudo isso!
Fechem-me isso à chave e deitem a chave fora!
Onde estão os antigos, as forças, os homens, os guias, os guardas?
Vão aos cemitérios, que hoje são só nomes nas lápides!
Agora a filosofia é o ter morrido Fouillée!
Agora a arte é o ter ficado Rodin!
Agora a literatura é Barrès significar!
Agora a crítica é haver bestas que não chamam besta ao Bourget!
Agora a política é a degeneração gordurosa da organização da incompetência!
Agora a religião é o catolicismo militante dos taberneiros da fé, o entusiasmo
cozinha-francesa dos Maurras de razão-descascada, é a espectaculite dos pragmatistas cristãos, dos intuicionistas católicos, dos ritualistas nirvânicos, angariadores de anúncios para Deus!
Agora é a guerra, jogo do empurra do lado de cá e jogo de porta do lado de lá!
Sufoco de ter só isto à minha volta!
Deixem-me respirar!
Abram todas as janelas!
Abram mais janelas do que todas as janelas que há no mundo!

Álvaro de Campos

15 dezembro 2009

Violeta à revelia


A violeta é introvertida e sua introspecção é profunda. Dizem que se esconde por modéstia. Não é. Esconde-se para poder captar o próprio segredo. Seu quase-não-perfume é glória abafada mas exige da gente que o busque. Não grita nunca o seu perfume. Violeta diz levezas que não se podem dizer.


Clarice L.

14 dezembro 2009

A porta estava aberta, foi entrando devagar e decidiu-se sentar. Agora me olhavam de soslaio e não procurei mais um esconder-me por de dentro. Ousei abrir delicadamente qualquer perna fazendo um gesto distinto – para algum que me calhava aos lábios. Sempre existe o que suporte a traição. Acostumei-me a ser discreta e a cumprir o mesmo movimento. Talvez, esta noite o seco perfuraria a terceira dimensão e estaríamos livres. É: um dia me disseram que ele viveria o sangramento. E os olhos bem concisos então se manifestaram sem a cerimônia do acaso, mas a do destino. Com mãos trêmulas de ossos grandes procurou se acudir em um rosto que o atravessasse entre nós e o chão. Como aquilo que chamamos de crosta. Ele ligado por um fio que era eu, tanto o fazia quem o foi – mas a realidade plena entre sensações inexistentes para cada corpo convém sempre às mãos frias.

11 dezembro 2009

Arnaldo!

Apesar de gostarmos tanto do Arnaldo nunca pusemos nada dele.
Então aí vai clipe do último cd dele que está excelente!

alguem tem slides eou sabe como fazer slides?

descobri que tenho uma máquina de slides.

08 dezembro 2009

c.asas


Poéticos sentimentos transitórios

Concepção, captação de imagens, edição e dança: Luciana Bortoletto Música: Phillip Glass

Créditos ao Lucas pela ajuda para colocar o videozinho no blog!

La Bomba de Tiempo

'
CRISE NOS VESTIBULARES DE TODO O PAÍS!

Será o começo do fim desse sistema retardado de seleção?

Será que com isso eles (eles? quem são eles? e nós?) vão perceber que esse método tem que mudar urgentemente pra um mais democrático, mais acessível, menos apartante, menos intimidante, onde a educação não apareça como um bicho de sete cabeças inalcançável, como ela é para a maioria da população brasileira?

Será que teríamos a humildade de olhar com consideração para o nosso vizinho que possui um sistema que, se não é o melhor do mundo, pelo menos funciona de verdade ha vinte e cinco anos e abre as portas do ensino pro seu povo, ao invés de desestimulá-lo?

Será que alguém tem a intenção de manter essa porra altamente regressiva e frenante (e arcaica, e BURRA) por muito tempo ainda?

Ou será que vamos ter que estimular o boicote a essa instituição fragilíssima, aproveitando a onda, pra que as pessoas caiam na real?


p.s É óbvio que o imenso tumor que temos na nossa educação não curaria com uma (não simples) mudança no sistema de ingresso ao ensino superior, mas com certeza seria um passo importantíssimo, mais ainda se não fosse o primeiro.

07 dezembro 2009

Cajuína

Não lembro quem me contou que essa música foi escrita quando Caetano soube que um fã seu morrera acidentado quando vinha lhe ofertar uma flor.



Para mim uma das músicas mais bonitas que há.

Pus essa com a Cibelle, pra variar um pouco e porque é bem boa também.

04 dezembro 2009



naná e o miltão com uns gringos...
caramba marcus miller!!

até o sax fica legal algumas horas

02 dezembro 2009

Sonhos - parte II

Disseram-me que eu não posso voar. A vida toda me tentaram convencer de que somente o passarinho, o Super-Homem e o avião podiam realizar tamanha façanha.

Eu mesmo discordo. Eu sei que posso voar, como JÁ voei inúmeras vezes por aí em campos abertos, em cidades desconhecidas, na própria sala de aula da minha antiga escolinha, ou em cantigas de roda de uma festa junina qualquer.

Eu não estou falando de poesia não, de metáforas kafkanianas, da abstração do puro ser. Sou da turma do copo cheio, que vê beleza nos aspectos menos concretos dessa vida humana de carne osso. Eu vôo.

Quando fecho os olhos à noite, se estou descansado, eu posso correr por quilômetros e quando sinto que estou preparado para encarar de vez o suspense, dou um pulo e tudo mais vira silêncio.

Quem aqui nunca voou? Acho difícil...

Conheço tão bem essa sensação gostosa de flutuar no vazio quanto o ato de segurar um copo d'água defronte à pia. Sei qual é a sensação de se cair num abismo de mil metros e morrer no final. É a brincadeira do vida-e-morte entre o Universo de Si e o Universo dos Outros. Ora o dia te joga para a noite, ora a noite te joga de volta para o dia (num grande susto, por saber que você continua - felizmente - vivo).

Só porque estamos deitados, cobertos por nós mesmos, não significa que aquilo não seja real.
A noite é tão irreal para o dia quanto o dia para a noite. Nela - à noite - o Universo se cristaliza em mim e por isso posso impôr as regras que quero. Na noite sou Deus. E hoje eu quero voar!

De dia o oposto acontece. É o jogo de espelho da Alice. O Universo ali presente não é meu e por isso não controlo as regras do jogo. Mas isso não significa que seja mais real, ou mais valoroso.

01 dezembro 2009

Arma na cabeça. Eu fujo num descampado. Tento me esconder muito inutilmente. Ele me alcança. Choro grito esperneio. E falo. Você não pode me matar que eu tenho função neste mundo. Sou atriz. Você não pode me matar. Ele tira uma garrafinha do bolso contendo algum tipo de bebida alcoólica forte. Vira a garrafa goela abaixo, ingerindo coragem pra me matar. Grito mais. Sou atriz. Sou atriz. Me deixe em paz. E aquela pequena e prateada coisa mortífera apontada na minha cabeça. Ele desiste. Ele desiste! Venço a batalha. Acordo do sonho e leio na minha parede: a arte não ama os covardes. Aprendo diariamente com os sonhos e com a arte.