25 dezembro 2008

23 dezembro 2008

Começo

"Tudo começou com um terno. Digo tudo porque, na verdade, o meu absoluto existe há pouquíssimo tempo. Uns dez anos, para ser mais exata. Claro que eu já existo faz uns dezoito, mas não estamos falando de mim por enquanto.
Era uma euforia gigantesca, todos corriam de um lado para o outro e mal podíamos nos reconhecer em meio a tanto pano. Tanta cor, tanto pulo, tantas vozes, tanto ânimo, tanto fôlego. Os chapéus acabaram bem rápido. Consegui me agarrar num – vermelhinho estilo francês anos 20 – ridiculamente grande para minha cabeça. As meninas deliciavam-se com os tecidos, fabricando vestidos de mãe com cordinhas e broches chiques, com pérolas e esmeraldas e diamantes até.
Os olhinhos perseguiam as rendas e lenços. Tínhamos que nos aprontar rápido, ou talvez só o quiséssemos. Sobrei com um terninho. Terno é roupa de menino. Colocaram a música pra tocar e os mais velhos foram se pintar. Inconformada, não conseguia sair da frente do espelho. Não me lembro ao certo o que senti, então vou inventar que senti raiva (embora seja esse um sentimento meio pesado para uma pequena de oito anos). Senti raiva e chamei atenção e vieram me explicar.
Do que vou dizer agora, disso eu nunca esqueci. Escrevo aqui na tentativa de nunca mais esquecer. “Aqui você pode ser o que quiser”. E com isso saí do espelho, fui ser o que queria. Naquele sábado fui menino, nos que se seguiram fui velha, cavalo, vendedor de pipoca, astro do rock, bailarina, bruxa, duende, marido, mulher, vovô, bebê, sapo, peixe, madame, mendiga, chinês, alemão, russo, bonita, feia, estátua, muro, chão, terra, fogo, mar, Deus, estrela e até Sol.
Ali podia ser quem eu queria. Qualquer coisa que quisesse ser, sem a menor possibilidade de ser vetada. Era o meu absoluto. Foi quando começou. Foi quando eu comecei.(...)"

Fim

"(...)O que acontece agora é que preciso terminar, o que significa que preciso de um fim. Já disse tudo que estava disposta a dizer nesses fragmentos e já refleti tudo que me foi possível, visto as poucas primaveras que por enquanto vivi. Gosto de pensar que ainda tenho muitas pela frente e, portanto não sei o que fazer com esse final.
Se isso fosse uma peça, faria agora minha última aparição. Depois agradeceria ao público e então iria pra casa. Continuaria a viver independentemente da minha última cena. Eu podia até ser morta no final, me suicidar com veneno. Continuaria viva. Na vida isso não acontece. O fim é o fim mesmo. Não existe personagem, por mais que rezemos. Nela passamos todo o tempo à procura de algo eterno. No palco tudo é eterno.
Na base de uma comparação real, a vida é uma grande decepção. Não se pode sempre fazer o que deseja e é necessário se conformar com certas decisões e políticas que não cabem a nós, meros não-personagens, influenciar ou criticar. Odiamos algumas pessoas e lugares e muitas vezes somos, por árduo que seja admitir, infelizes.
(...) Não podemos fumar sem que isso nos mate e não podemos fazer amor sem temer. Não podemos fazer nada sem temer.
Sou então abatida pelo pensamento de que talvez seja maravilhoso que o fim signifique mesmo o fim. E é bem nessa hora, quando fica muito fácil me revoltar contra a vida toda, que recordo dos meus sentidos, que são a minha essência. E como boa mulher de teatro, lembro que sou apaixonada pela vida e faço dela minha arte.
Na minha arte eu escolho o que é eterno e faço com isso o que quiser. Na minha arte eu escolho meu final e por isso não preciso terminar. Por isso não vou terminar."

(Dois textos da Luisa, minha prima)

O pássaro


da Clarice

Pra onde essas palavras vão escorrer?

"É sempre assim quando se quer dizer as coisas. aquela história de que quanto mais se tem a dizer, mais difícil é. e vai criando uma obviedade muito íntima que só você entende. os espaços vazios sempre invadidos pela música. no ônibus, no banho, cozinhando, beijando, dormindo. nada consegue escapar. fica tudo entalado em algum lugar entre peito e boca até que explode assim, desse jeito que não dá pé, não tem pé (...)"

Do blog 'esse meu cafofo' (link ao lado direito da página), da Clarice.

Incursão ao Myspace

Brincar um pouco pelo myspace deu nisso:

http://www.myspace.com/ceumar - Reparem na música "A cor do amor" - uma levada puxando as raízes africanas e desembocando num Brasil muito bonito. A voz dela cada vez melhor.

http://www.myspace.com/tuliparuiz - Música "Só sei dançar com você". (foi a Clarice que me indicou esse)

22 dezembro 2008

primeiro texto

O primeiro texto da Ana Lua foi uma pergunta....

Ccx n bvb ngb fv v bghhhxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx`cyy hhdgnjw ednfdcm cfffffc`?

21 dezembro 2008

Rubi


Mortal loucura
(Do poema homônimo de Gregório de Matos musicado pelo José Miguel Wisnik)

18 dezembro 2008

Adeus

Pensei pensei.

Como é difícil escrever, meu Deus, depois tanta palavra bonita que tem por aí.
Mas a pretensão é falsa - fingida? - pensa e não e escreve. Ou pior, finge que não pensa?

Foi o Rousseau que disse, a primeira língua do mundo é poesia, uma onomatopéia para aquilo que queremos dizer, que aos poucos foi virando aquilo que queremos dizer.

Nas línguas românticas, a despedida vem junto à Divindade:
Adio
Adieu
¡Adiós!
Adeus

Talvez por isso seja tão árduo escrever; despimo-nos deste traje, forçosamente romântico, de um apreciador barato à espera do Prêmio Jabuti - no primeiro blog - e esqueçemo-nos do essencial: transmitir.

Utilizo deste espaço público, dizendo aquilo que quero dizer.
Repetir, no entanto, é um ato inconsciente, por isso não o faço, mas atravesso, através das minhas palavras, as palavras de Bethânia:

Adeus, meu Santo Amaro
Que eu dessa terra vou me ausentar
Eu vou para Bahia
Eu vou viver, eu vou morar
Eu vou viver, eu vou morar
Adeus meu tempo de chorar
E não saber porque chorar
Adeus, minha cidade
Adeus, felicidade
Adeus, tristeza de ter paz
Adeus, não volto nunca mais
Adeus, eu vou me embora
Adeus e canto agora
O que eu cantava sem chorar

06 dezembro 2008

Lalma

Escreviver

é

adormamortecer.


Fundo ir em frente
Seguir rumo são

Paulo me pertence?

Para eterneternizar
esquecer parece bom

Deixa que a alma lembra confia na alma a alma sabe sim
ela que vive e morre a vida inteira
Ela sim
ela lembra

Eterneternizar é escreviver mansamente.

Comalma. Com. Calma.

Paris assimétrica

Do lado esquerdo, do esgoto, do cigarro, do corpo, do abandono, da cultura marginal, falta de grana e de carinho, da frieza, das cores, simples ironia, das tralhas, do desejo, da frágil simetria... da beleza, inacabada, tão imperfeita, tão bela.
É disso que Emiliano fala.

http://www.flickr.com/photos/emilianocapozoli/

05 dezembro 2008

Filosofia e atualidade

"(...) Após o desabamento da filosofia, ao anunciar o fim da história, os filósofos deveriam ter renunciado de se considerarem como editorialistas. E, no entanto, alguns tiraram então a conclusão inversa: o ato filosófico é por excelência o de escrever em jornais. Mas para escrever o quê? O filósofo seria um jornalista mais profundo que os demais em virtude de seu vocabulário intimidante? Foucault disse que a filosofia seria atualmente uma "ontologia* da atualidade". Na verdade, essa posição sempre me irritou, de quebra por causa do seu jargão. Mas também porque ela repousa sobre uma confusão de gêneros. Nós lemos o jornal para saber novidades da atualidade, por exemplo de tal ou tal guerra, ou de tal revolução. Mas o filósofo não pode falar de tal revolução, somente da revolução em si ou do conceito de revolução. É por isso que quando eu ouço dizerem que a verdadeira filosofia está no jornalismo, eu não consigo me decidir se essa proposta é ridícula somente ou se, na verdade, ela é desesperada."

*ontologia (do grego: ontos=ser; logia=estudo), ou seja, estudo do ser

Vincent Descombes ("La Philosophie par gros temps" 1989, Ed. de Minuit)
Extrato do suplemento da "Philosophie Magazine" de agosto-setembro 2008, página 29. A revista não precisa a página da citação dentro do livro do filósofo. Tradução minha.