"(...) Após o desabamento da filosofia, ao anunciar o fim da história, os filósofos deveriam ter renunciado de se considerarem como editorialistas. E, no entanto, alguns tiraram então a conclusão inversa: o ato filosófico é por excelência o de escrever em jornais. Mas para escrever o quê? O filósofo seria um jornalista mais profundo que os demais em virtude de seu vocabulário intimidante? Foucault disse que a filosofia seria atualmente uma "ontologia* da atualidade". Na verdade, essa posição sempre me irritou, de quebra por causa do seu jargão. Mas também porque ela repousa sobre uma confusão de gêneros. Nós lemos o jornal para saber novidades da atualidade, por exemplo de tal ou tal guerra, ou de tal revolução. Mas o filósofo não pode falar de tal revolução, somente da revolução em si ou do conceito de revolução. É por isso que quando eu ouço dizerem que a verdadeira filosofia está no jornalismo, eu não consigo me decidir se essa proposta é ridícula somente ou se, na verdade, ela é desesperada."
*ontologia (do grego: ontos=ser; logia=estudo), ou seja, estudo do ser
Vincent Descombes ("La Philosophie par gros temps" 1989, Ed. de Minuit)
Extrato do suplemento da "Philosophie Magazine" de agosto-setembro 2008, página 29. A revista não precisa a página da citação dentro do livro do filósofo. Tradução minha.
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