"(...)O que acontece agora é que preciso terminar, o que significa que preciso de um fim. Já disse tudo que estava disposta a dizer nesses fragmentos e já refleti tudo que me foi possível, visto as poucas primaveras que por enquanto vivi. Gosto de pensar que ainda tenho muitas pela frente e, portanto não sei o que fazer com esse final.
Se isso fosse uma peça, faria agora minha última aparição. Depois agradeceria ao público e então iria pra casa. Continuaria a viver independentemente da minha última cena. Eu podia até ser morta no final, me suicidar com veneno. Continuaria viva. Na vida isso não acontece. O fim é o fim mesmo. Não existe personagem, por mais que rezemos. Nela passamos todo o tempo à procura de algo eterno. No palco tudo é eterno.
Na base de uma comparação real, a vida é uma grande decepção. Não se pode sempre fazer o que deseja e é necessário se conformar com certas decisões e políticas que não cabem a nós, meros não-personagens, influenciar ou criticar. Odiamos algumas pessoas e lugares e muitas vezes somos, por árduo que seja admitir, infelizes.
(...) Não podemos fumar sem que isso nos mate e não podemos fazer amor sem temer. Não podemos fazer nada sem temer.
Sou então abatida pelo pensamento de que talvez seja maravilhoso que o fim signifique mesmo o fim. E é bem nessa hora, quando fica muito fácil me revoltar contra a vida toda, que recordo dos meus sentidos, que são a minha essência. E como boa mulher de teatro, lembro que sou apaixonada pela vida e faço dela minha arte.
Na minha arte eu escolho o que é eterno e faço com isso o que quiser. Na minha arte eu escolho meu final e por isso não preciso terminar. Por isso não vou terminar."
(Dois textos da Luisa, minha prima)
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