01 março 2009

Doença Crônica

Começou assim de mansinho, quando eu era pequeno:

No meio do passo rápido, (num dia daqueles cheio de passos rápidos) parei e ouvi. Ué. Tá lá, eu tô aqui. Parei e ouvi. Não é assim que a música funciona? O rádio em cima da estante de madeira, detrás de uma porta de vidro, num universo que não me pertencia.
Quando se está na rua, o estabelecimento comercial encerra-se em si mesmo, impossibilitando ao passante de não-entrar. É praticamente impossível hoje, numa cidade como a cidade de São Paulo, entrar e não consumir.
Eu quebrei esta regra - e veja bem - não porque bem queria quebrá-la, mas o som não respeita linha, porta, calçada, vizinho e ouvido. Muito menos ouvido. Eu consumi o que aquele lugar havia para oferecer, querendo ele ou não.

Peguei o bloquinho (um dia de passos requer sempre um bloquinho) e anotei.

Nessa brincadeira do bloco, entre uma e outra escrita, percebi que não se tratava de uma simples curiosidade. Junto à anotação, associa-se um fiel companheiro: o Google; ferramenta primordial para qualquer ser urbano, proporcionando o descobrimento de qualquer música, seja lá qual for, se uma frase o tiver, e em questão de segundos você já a está ouvindo seguidamente, como que decorando o refrão, ou vendo o clipe no youtube.

A internet cresceu comigo. Neste tempo anotei cinco mensagens de texto, dezena de frases, uma quinzena de folhas. O recheio delas permanece intacto, até o momento em que se clique "search" e à partir daí o mundo desdobra-se do papel, sai do 2D.

O problema é que a lista vai tornando-se cada vez mais ampla, e o meu "momento-google" cada vez mais curto. Enquanto isso, o caderninho vira uma colcha de retalhos, esperando o momento certo para esvaziá-lo, de tanto peso e de tanto som que ele carrega.

Vai mais uma do caderninho. Dessa vez, de um amigo meu, que cantarolou, assim como quem não quer nada. Mal sabia ele que estaria no caderninho algum tempo depois.

Será que o Google pode achar a cura pra isso?

Gero Camilo - Vai Desabar

3 comentários:

Clarice disse...

chico- um maluco adorável!

d scan disse...

CONCHA DE RETALHOOOOS! vai pro meu caderninho, que é rival do google.

Chico disse...

eu disse que o N ficava perto do L
mas ninguém acreditou...