28 outubro 2010

História para crianças

As vezes sinto que meu irmãozinho...(que já vai fazer 12 anos) se equilibra nos últimos momentos da infância, tal como se tivesse abraçado à lua quando está só naquele fiapo de unha. Já misturam-se nele uma certa ironia despontanda para a "marra" , os sons de guitarra e a busca por compreender os limites reinventandos do corpo . Mas todavia Caio é muito menor que os garotos de sua idade e ainda cabe perfeitamente no meu colo. E me pede todas as noites para que eu lhe conte histórias, alegando que eu tenho uma criatividade surpreendente e que meu jeito de ler qualquer livro é o mais divertido que existe. E eu sinto abrir, pelos ouvidos dele, as portas de um certo paraíso... pois quem mais nessa vida tem paciência em escutar emocionado a minha imaginação desvairada? E que me acompanha intimamente descobrindo os mundos, os seres e as experiências coloridas que me habitam? ( mando de teimosia esses escritos porque sei que quase nenhum de vocês vai ter ânimo para ler até o final...hahah)

Desde que ele era metade bebe/metade criança e começou a demonstrar interesse pelos livros, eu me acostumei a pegar as histórias em quadrinho, ou aqueles que tinham as melhores ilustrações, e inventar espontâneamente um enredo completamente diferente do que estava escrito. Demorou muito tempo até ele desconfiar que as histórias que a irmã contava não estavam registradas ali, pois quando ele pedia para a mãe e para o pai lerem para ele, não tinha nem metade das maluquisses que ele tinha escutado da minha boca. Quando aprendeu a ler... ele me testava. Então eu começava a ler a história certinha e ele estava escutando atentamente, dai no meio do caminho eu já tinha inventado outros diálogos e tinha mudado todo o rumo da história... e só quando eu inventava uma fala absurda que sabia que o faria rir, ele conferia e dizia rindo que desconfiava que eu não tinha aprendido a ler direito na escola.

Hoje em dia , pela obrigação de estudante, ele tem um livro por mês para ler. E nosso passatempo predileto passou a ser inventar juntos novos diálogos e por no meio da história um certo personagem.... que faz um ano em suas aventuras na maior floresta tropical do mundo, com suas habilidades para os números e por sua coragem desmedida, empresta mais graça a qualquer de nossas história.... pois no final sabemos que muitas vezes o que contamos dele foi real.

Ontem, Caio me pediu que eu inventasse uma história no espaço...com novas formas de vida. Desafio complicado é se descolar das preocupações do dia e deixar voar para bem longe, recuperando a densidade do ar que farão as crianças entrarem, ainda acordadas, no sonho. Por ter uma mente em imagens eu posso ver nititidamente os cenários e abuso da descrição das coisas que eu imagino em suas texturas e cheiros, afim de ganhar tempo para compor uma trama que faça o mínimo de sentido. Ontem acabei investigando com a imaginação um planeta recém descoberto pela ciência com grande potêncial de existir vida..mas na minha história a ecologia do lugar era mantida por seres abstratos que eram feitos de matemática ( uma pena eu não lembrar os nomes cientificos dos fenônemos da biologia que vou aprendendo) um ser era por exemplo o número um ...(só que com caras e bocas )ou uma equação inteira caso ele fosse muito gordo... (e quando namoravam era um gráfico..).e cada ser comandava um efeito natural do planeta...onde as crianças eram tratadas como o sol... pois sabiam mais que ninguém sobre compartilhar o infinito.


Anita.