12 novembro 2010

ÁGUA SEXUAL

Só mesmo um homem, como Pablo Neruda, conseguiria descrever o sexo assim.
Ai, ai...essa maravilhosa origem da vida.

Como muitos não entendem espanhol....tentei adaptar na minha interpretação para meu português selvagem ( sem muito sucesso...)

Beijos com o carinho de sempre.
Anita

ÁGUA SEXUAL

Rodando calhas solitárias,
há gotas como dentes,
há espessas goteiras de marmelada e sangue,
rodando a calha,
cai a água,
como uma espada em gotas,
como um desgarrado rio de vidro,
cai mordendo,
golpeando o eixo da simetria, pegando nas costuras da
alma,
rompendo coisas abandonadas, empapando o obscuro.

Somente é um sopro, mais úmido que o choro,
um líquido, um suor, um óleo sem nome,
um movimento agudo,
fazendo-se, espessando-se,
cai a água,
a gotejadas lentas,
em direção ao seu mar, ao seu seco oceano,
à sua onda sem água.

Vejo o verão extenso, e um estertor saindo de um celeiro,
bares, cigarras,
populações, estímulos,
habitações, crianças dormem com as mãos no coração,
sonham com bandidos, com incêndios,
vejo barcos,
vejo árvores de medula
enraizados como gatos raivosos,
vejo sange, punhais e meias de mulheres,
e pelos de homem,
vejo camas, vejo corredores onde grita uma virgem,
vejo lençois e orgãos e hoteis.

Vejo os sonhos sigilosos,
admito os dias postergados,
e também as origens, e também as recordações,
como uma pálpebra atrosmente levantada a força
estou olhando.

E então há esse som:
um ruido vermelho de ossos,
um grudar-se de carne,
e pernas amarelas como espigas juntando-se.
Eu escuto entre o disparo dos beijos,
escuto, sacudindo entre respirações e soluções.

Estou vendo, ouvindo,
com a metade da alma no mar e a metade da alma
na terra,
e com as duas metades da alma olho o mundo.

E ainda que feche os olhos e me cubra o coração inteiramente,
vejo cair uma água surda,
a grossas gotas surdas.
É como um furação de gelatina,
como uma catarata de espermas e medusas.
Vejo correr um arco iris turvo.
Vejo passar suas águas através dos ossos.

ÁGUA SEXUAL

Rodando a goterones solos,
a gotas como dientes,
a espesos goterones de mermelada y sangre,
rodando a goterones,
cae el agua,
como una espada en gotas,
como un desgarrador río de vidrio,
cae mordiendo,
golpeando el eje de la simetría, pegando en las costuras del
alma,
rompiendo cosas abandonadas, empapando lo oscuro.

Solamente es un soplo, más húmedo que el llanto,
un líquido, un sudor, un aceite sin nombre,
un movimiento agudo,
haciéndose, espesándose,
cae el agua,
a goterones lentos,
hacia su mar, hacia su seco océano,
hacia su ola sin agua.

Veo el verano extenso, y un estertor saliendo de un granero,
bodegas, cigarras,
poblaciones, estímulos,
habitaciones, niñas
durmiendo con las manos en el corazón,
soñando con bandidos, con incendios,
veo barcos,
veo árboles de médula
erizados como gatos rabiosos,
veo sangre, puñales y medias de mujer,
y pelos de hombre,
veo camas, veo corredores donde grita una virgen,
veo frazadas y órganos y hoteles.

Veo los sueños sigilosos,
admito los postreros días,
y también los orígenes, y también los recuerdos,
como un párpado atrozmente levantado a la fuerza
estoy mirando.

Y entonces hay este sonido:
un ruido rojo de huesos,
un pegarse de carne,
y piernas amarillas como espigas juntándose.
Yo escucho entre el disparo de los besos,
escucho, sacudido entre respiraciones y sollozos.

Estoy mirando, oyendo,
con la mitad del alma en el mar y la mitad del alma
en la tierra,
y con las dos mitades del alma miro al mundo.

y aunque cierre los ojos y me cubra el corazón enteramente,
veo caer un agua sorda,
a goterones sordos.
Es como un huracán de gelatina,
como una catarata de espermas y medusas.
Veo correr un arco iris turbio.
Veo pasar sus aguas a través de los huesos.

Pablo Neruda

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