18 junho 2010

mallarmé por debussy


"Se a música moderna teve um ponto de partida preciso, podemos identificá-lo nesta melodia para flauta que abre o Prelude à l'Apres-Midi d'un Faune de Claude Debussy (1862-1918). [...]
Uma das principais características de música moderna, na acepção não estritamente cronológica, é a sua libertação do sistema de tonalidades maior e menor que motivou e deu coerencia a quase toda a música ocidental desde o século XVII. Neste sentido, o Prélude de Debussy incontestavelmente anuncia a música moderna. Suavemente ele se liberta da tonalidade diatônica (maior-menor), o que não significa que seja atonal, mas apenas que as velhass relações harmônicas já não têm caráter imperativo. Em certos momentos, Debussy deixa pairar uma dúvida sobre a tonalidade, como nos dois primeiros compassos da citada melodia para flauta, onde preenche o espaço entre dó sustenido e sol: todas as notas são incluídas, e não apenas aquelas que permitiriam identificar uma espécifica tonalidade maior ou menor. Além disso, o intervalo harmônico – um trítono – é o mais hostil ao sitema diatônico, o "diabolus in musica", como o denominavam os teóricos medievais. Debussy não persiste neste caminho, pois seu terceiro compasso registra uma resolução na tonalidade de si maior. Mas a harmonia diatônica é agora apenas uma possibilidade entre muitas, não necessariamente a mais importante, nem necessariamente determinante da forma e da função. [...]"

pags 7 e 8 do livro A Música Moderna de Paul Griffiths, que me indicaram pra tentar compreender melhor esse universo maluco. Quanto a peça ela é assim definida num encarte duma coletania que tenho aqui em casa:

"São pouco mais de 10 minutos de pura magia sonora. Debussy escreveu essa peça a partir do poema de Mallarmé, l'Apres-Midi d'un Faune, em 1892- 94, para fazer brilhar o bailarino Vaslav Nijinsky. Eis a descrição do compositor: "Ela não pretende ser, de modo algum, uma síntese do poema, mas uma ilustração muito livre. É antes a sucessão de cenários através dos quais movem-se os desejos e os sonhos do Fauno no calor dessa tarde".

Decio Pignatari traduziu o poema, logo o transcreverei aqui. Abaixo uma apresentação da peça em 1972, com o maestro Stokowski aos 90 anos:







* o Tata ja tinha falado sobre essa obra. Click aqui

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