11 novembro 2008
Vitória Régia e os podres poderes públicos
Ontem viajei para Bauru, cidade do interior de São Paulo, onde supostamente foi inventado o sanduiche de nome homônimo - se é que isso vem ao caso (não, não vem). O que realmente vem ao caso é que durante o meu tempo livre (fomos apresentar um espetáculo na USP) saí para conhecer os arredores da USP. Eu e meu amigo Kenan. Caminhamos alguns poucos metros além da Universidade e nos deparamos com um parque lindo, imenso, chamado Vitória Régia. No parque havia um lago, grande e lindo também. Fomos seguindo a cabeceira deste lago meio rio, quando nos deparamos com algo pouco comum: havia um palco dentro do lago. Um palco redondo, de concreto, com umas tapadeiras também de concreto atrás dele. E quando olhamos para trás, percebemos uma imensa arquibancada construída ao longo do morro, de frente para o palco no lago. Vi que estava diante de um verdadeiro teatro de arena nos moldes Gregos Antigos. Nunca estive na Europa e por isso nunca havia visto de perto uma construção deste tipo, e foi no Vitória Régia em Bauru que fui apresentada ao teatro ao ar livre. Que lindo que é! Eu e Kenan ficamos enlouquecidos, subindo e descendo as arquibancadas, andando pelo espaço amplo do palco no meio do lago, dizendo textos, testando a acústica do local, vendo se realmente é possível escutar um ser humano lá de cima da arquibancada. E é! E que imagem linda ver uma pessoinha lá embaixo, no meio do palco, no meio do lago, um Homem dizendo coisas ao mundo - isso é o teatro. Emocionante, mesmo. Ficamos felizes com a descoberta e voltamos para a USP imaginando-nos num espetáculo apresentado ali, tentando visualizar a emoção de se ter mil pessoas assistindo-nos em pleno parque, pleno lago, plena Bauru!, quantidade que cabia aparentemente nas arquibancadas. No caminho de volta havia uma pequena loja onde paramos para comprar água e aproveitamos para perguntar à moça do caixa, decerto uma nativa de Bauru, como eram as atividades ali naquele palco-estádio que havíamos conhecido, qual a sua relevância para a cidade, como as pessoas lidavam com aquele espaço tão interessante, dentro de sua cidade. Para nossa total frustração (e não total surpresa, em se tratando de Brasil, infelizmente) a moça do caixa nos disse que o espaço estava praticamente inutilizado. Quando acontecia alguma coisa em geral eram shows, nunca teatro. Depois me lembrei do caráter abandonado do local, com pixações e alguns objetos de iluminação destruídos. O lindo e democrático espaço do teatro ao ar livre é praticamente ignorado na cidade de Bauru. E fico me perguntando - o que raios a Secretaria de Cultura da cidade organiza, que não festivais e atividades que possam ocupar aquele espaço??? Fazer com que uma população frequente o teatro, que veja relevância nesta forma artística é um exercício que depende também de algumas determinações ou facilitações do Estado. De incentivos. De formar público. De ocupar e manter vivos espaços incríveis como este teatro do Parque Vitória Régia.
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Um comentário:
Impressionante.
Isso me lembra uma vez quando estávamos com o Nuno Ramos e alguém lhe perguntou se ele achava que no Brasil faltavam artistas de qualidade, ou produções interessantes. Ele disse que não. Disse que, ao contrário, tem artistas de sobra, mas que sofremos dum problema de esquecimento ou coisa que o valha: quando o artista produz aqui, em pouco tempo já nem nos importamos mais com ele. Essa história de Bauru me lembra disso.
Mas ainda bem que ainda nos indignamos diante desses absurdos. É a brecha pra mudança.
Parabéns pelo texto
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