11 março 2010

Marcel Duchamp

Em 1913 tive a feliz ideia de juntar uma roda de bicicleta a um banco de cozinha e vê-la rodar. Alguns meses depois comprei uma reprodução barata de uma paisagem noturna de inverno, a que chamei de "Pharmacy", depois de acrescentar dois pequenos pontos, um vermelho e um amarelo, no horizonte. Em Nova York, em 1915, comprei numa loja de equipamentos uma pá de neve na qual escrevi "In Advance of the Broken Arm". Foi por esta época que a palavra "readymade" me veio a mente para designar esta forma de manifestação. Gostaria de deixar bem claro que a escolha destes "readymades" jamais foi ditada por deleite estético. A escolha foi feita com base em uma reação de indiferença visual e ao mesmo tempo em uma total ausência de bom ou mal gosto. De fato uma completa anestesia. Uma característica importante é a breve frase que eu ocasionalmente inscrevo no "readymade". Esta frase, em vez de descrever o objeto como um título, pretende conduzir a mente do espectador para outras regiões mais verbais. Algumas vezes adiciono um detalhe gráfico de representação, o qual, para satisfazer minha necessidade de aliterações, se chamraria "readymade aided". Em outro momento, desejando êxpor a antimonia [paradoxo] básica entre Arte e Readymade, imagineium Readymade Recíproco": usar im Rembrandt como uma tábua de passar!
Eu percebi muito cedo o perigo de repetir indiscrimanadamente esta forma de expressão, e decidi limitar a produção dos Readymades a um pequeno grupo anual. Eu estava consciente na época de que, para o espectador mais do que para o artista, arte é uma droga que cria o hábito, e eu queria proteger meus Readymades deste tipo de contaminação.

Outro aspecto do Readymade é a falta de unicidade... A réplica de um Readymade diz sempre o mesmo. Na verdade, a quase totalidade dos Readymades existentes hoje não é original no sentido tradicional. Uma última observação para este discurso egomaníaco: já que tubos de tinta usados pelos artistas são manufaturados e produtos "readymade", poderíamos concluir que todas as pinturas do mundo são "readymades aided", bem como trabalhos de assemblage.


Um comentário:

Chico disse...

eu gosto como Duchamp é simples.
Simples não, direto.